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terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O País Tradicional e a Pequena Exploração Agrícola Autónoma


Portugal agrícola anos 20


Convém desde já frisar que o autor viveu em Angola até 1975, embora tivesse vindo a Portugal em 1952 (com 13 anos) em 1958 (com 19 anos) e diversas vezes de 1963 a 1975,o que em termos de registo de memória facilita a sua compreensão quanto ao tema que hoje aborda.

Vínhamos dizendo no nosso boletim de Julho que o pequeno empresário agricultor obtinha a sua formação através do contacto com os membros da geração que o antecediam e que incluía uma polivalência essencial à sobrevivência de uma pequena empresa. Aprendia a construir alguns instrumentos mais simples, o que implicava uma menor dependência em relação aos serviços prestados pelos especialistas dos diferentes ofícios e acrescentava  a arte de lavrar a terra e as técnicas essenciais à preservação do solo e ao equilíbrio dos ecossistemas.

Em relação à floresta tomava conhecimento prático não só no que dizia respeito ao corte das madeiras mas, também do desbaste para a produção de adubos orgânicos e energia. A este conjunto  de artes juntava o domínio da pecuária onde o agricultor deveria de conhecer todas as técnicas necessárias à gestão de uma pequena  da pecuária, não só no que diz respeito à produção, criação e abate mas também no que se referia à preparação das carnes e peles.

Este empresário agricultor completava o seu profundo saber tradicional com o domínio das técnicas de transporte, quer utilizasse animais ou carros de tracção animal.

No inicio do século XX, na sociedade tradicional portuguesa, o modelo de empresa era essencialmente o da pequena exploração agrícola, sendo importante fazer desde já uma distinção entre o gestor e a cultura organizacional predominante no Norte ( minifúndio) e o outro gestor e a cultura organizacional no sul (latifúndio). O primeiro caso era caracterizado sobretudo, pela escassez de contactos, ou melhor o pequeno empresário agricultor, que adquiria a formação  fornecida pelos contactos com os membos da geração anterior. A aprendizagem era um tanto complexa uma vez que exigia do agricultor uma polivalência que lhe assegurasse a sobrevivência da pequena empresa adquirindo conhecimentos nas mais variadas áreas, usufruindo assim de uma certa independência relativamente aos especialistas dos diferentes ofícios.

Toda a actividade familiar repousava na expansão da propriedade, sendo esta considerada a base da subsistência, era o maior bem, de tal modo que eram até realizados e combinados casamentos de “interesse” que proporcionassem a expansão da propriedade agrícola, havendo que distinguir entre o agricultor denominado “rico” e o agricultor “remediado” ( que mesmo tendo algumas posses,   tinha necessidade  de trabalhar para terceiros). Para além destes devera mencionar-se o agricultor “pobre” , que era “proprietário” de um casebre e dez palmos de terra. As relações de trabalho subordinado, geralmente, recebia como compensação, por exemplo, vinho, toucinho, pão, etc. e raramente dinheiro. Existiam porém, casos em que os trabalhadores prescindiam da compensação, tratando-se neste caso não de relações de trabalho mas de inter ajuda. Em contraponto ao sul do país encontravam-se as grandes propriedades agrícolas. Os proprietários ao contrário dos pequenos agricultores encontravam-se afastados da condução  directa da exploração já q eu viviam nas vila e nas principais cidades e até mesmo na capital.

A questão da produção acabava por ficar a cargo dos denominados “feitores” ou “caseiros” que eram escolhidos em função da sua experiência e sobretudo da sua lealdade para com os patrões. Apear de possuírem alguma experiência, estes gestores intermédios não detinham a mesma polivalência que os pequenos agricultores autónomos, necessitando assim, de alguma especialização m determinadas áreas tendo também a seu cargo certos trabalhadores ditos proletários ou agricultores mais pobres encarregues de tarefas específicas. Para assegurar a sua subsistência eram sujeitos a uma disciplina algo desumana, de forma a garantir o seu salário. As relações que exigiam esta disciplina eram consideradas bastante diferentes das relações de inter ajuda já mencionadas.

Poderíamos também encontrar, nesta altura algumas oficinas e pequenas unidades industriais nas vilas e cidades, bem como em algumas aldeias de maior dimensão, devido à proximidade de locais favoráveis ao comércio sendo de destacar a proximidade dos rios que lhes garantissem energia hídrica. Estas oficinas e unidades industriais permitiam o abastecimento regional e nacional.

A organização destas pequenas empresas era semelhante à das pequenas e médias empresas agrícolas, vendiam nos mercados e feiras locais devido à deficiente rede de transportes existente na altura. No entanto, com desenvolvimento progressivo dessa mesma estrutura, alargaram-se os horizontes do mercado potencial, permitindo então, aos empresários chegar até à capital de outros centros urbanos do país, ou mesmo até centros de negócios no estrangeiro.

O desenvolvimento progressivo destas pequenas unidades industriais iriam acentuar a necessidade de recrutar trabalhadores com melhores habilitações, vindo posteriormente a ser apelidados de “colarinhos brancos”, por ocuparem lugares de prestigiados embora mal pagos e eram recrutados em consequência da troca de favores. Em indústrias de maiores dimensões estes “colarinhos brancos” eram colocados em escalões mais elevados e relativamente bem pagos.

Mais tarde, durante a 1ª Guerra Mundial surgiu  a primeira fase da nova revolução industrial a partir da expansão do mercado relativamente a alguns produtos ainda a facilidades de exportação promovidas pela conclusão da rede de caminhos de ferro e pela construção de pontes que possibilitavam o escoamento de grande parte da exportações portuguesas.

Saudações Rotarias
José Carlos Oliveira



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