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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Capítulo 2

A Indústria Portuguesa do inicio dos anos 30 do seculo XX

No capitulo anterior acabamos dizendo que a 1ª Grande Guerra fez imergir uma nova faceta da revolução industrial que sofisticou a expansão das relações mercantis, com a inovação de um novo modelo de transporte continental “ o caminho de ferro”; e naturalmente as infra-estruturas arquitectónicas inerentes aos acidentes de terreno, as grandes pontes, possibilitando assim às maiores companhias nacionais e multinacionais o rápido escoamento para os portos de embarque e desembarque.

Tornou-se necessária a emergência de uma nova classe de empresários para aproveitar as novas condições do mercado interno e externo. Foi um período em que os mercados tudo absorviam. Os fabricantes não necessitavam de se preocupar com a qualidade, as colónias lá estavam para garantir o que de pior se fabricava. Esta elite só estava preocupada em garantir a sua afirmação social bem como a de seus filhos, em vez de assegurar a renovação, os processos tecnológicos e a pesquisa de mercados alternativos.

Tal como no resto da Europa e da América, a insuficiente mão de obra masculina criava sérias dificuldades, o seu custo tornava-se incompatível, a mais qualificada partia para a América e Norte da Europa e a indiscriminada preparava-se para a grande aventura de África. 

Algumas das novas empresas industriais começavam a recorrer à mão-de-obra feminina. Note-se que a grande maioria de homens ou mulheres, recrutados pelas novas unidades fabris, eram geralmente camponeses e procuravam emprego certo. Em algumas regiões este fenómeno esteve na base do êxodo rural e da consequente proletarização dos migrantes internos. As relações nas empresas sociais industriais assemelhavam-se às grandes empresas agrícolas, o que significava o abandono do sistema de inter-ajuda e respeito mútuo, tradicional na sociedade rural. O desenvolvimento destas empresas veio exigir aumento dos empregados no sector terciário que passaram a ser recrutados entre os jovens que completavam o primeiro ciclo dos liceus (o antigo quinto ano).

Nesta primeira fase da renovação industrial, quer a agricultura quer o sector terciário sofreram grandes alterações e um ramo se distinguiu na selecção do pessoal recrutado, a banca comercial e consequentemente a área dos seguros, sem esquecer a implementação de serviços necessários à moderna inovação de transportes, o automóvel.

Foi na primeira metade do século XX que as empresas industriais de grande dimensão se expandiram, a coberto de pautas aduaneiras preferenciais para os artigos coloniais por elas fabricados. Estávamos então no rescaldo da 2ª Grande Guerra, e este fenómeno arrastou a economia portuguesa que se viu novamente forçada a tentar acompanhar o desenvolvimento da economia mundial, embora sem grande sucesso, diga-se de passagem. A política paternalista do Estado Novo, era levada a cabo por um escasso número de empresários o que não impedia o Estado de não estar atento à instrução escolar pós liceal. Esta situação precipitou uma nova vaga de técnicos, os licenciados pelas universidades de Lisboa e Porto. Tornou-se evidente a selecção do trigo do joio. Apesar do esforço, era notória a escassez de diplomados universitários (entenda-se que a política do Estado Novo continuava a forçar a emigração tanto legal como clandestina, e tinha as suas razões). Até aos anos sessenta o sector dos recursos humanos, dentro das empresas e dos organismos estatais, era uma secção gerida por alguém de confiança da administração, sem grandes habilitações literárias. Só a partir dos finais dos anos cinquenta, (havia motivos políticos para este estado de coisas), se começaram a recrutar profissionais com cursos superiores da área das ciências sociais.

Foi nesta época, a meados do século XX que em Portugal se operou um fenómeno no meio empresarial privado e do estado importado dos EUA: o Movimento Rotário. Podemos de grosso modo visioná-lo assim: “Um homem, humanisticamente bem preparado, teve uma ideia, montou uma engrenagem humana, organizou os elementos adequados e necessários, e pôs em marcha uma organização sem distinção de cor ou credo em prol do bem da humanidade. 

Nenhum ser humano de bom senso, digo eu, deixará de perceber a sua relativa precariedade, mas isso é próprio do homem. Curiosamente, esta nova cultura empresarial atravessou uma grande dificuldade: a desconfiança com que o Estado Novo olhava este tipo de associações. Porém, não devemos cair na crítica fácil. A complexidade das relações internacionais em que o Escol português se via então envolvido, dificilmente permitiria “aventuras”.

Ainda haveria de passar muita água por debaixo das pontes até que o cordão umbilical “ultramarino” se quebrasse, e apesar das tremendas dificuldades passadas pela sociedade portuguesa de então, “o tempo e o vento”, viria a preparar uma nova cultura organizacional nas empresas e, desta feita virada para os destinos da Europa. 


Saudações Rotarias
José Carlos Oliveira

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